MELHORAMENTO GENÉTICO DA ERVA-MATE
Erva-Mate
Publicado em 23/01/2024

Por Gabriel Corrêa Pesquisador responsável pelo desenvolvimento da cultivar Cambona 4

 

É quase um consenso na área de tecnologia que um dos maiores gargalos da cultura da erva-mate no Brasil é a escassez de material genético selecionado, com vistas à produtividade e à qualidade de bebida disponível aos produtores. A seleção de matrizes dos atuais plantios foi feita de forma precária, através de avaliações informais. 

Na minha vida profissional, trabalhei com dois exemplos: a seringueira, que foi para a Malásia, e a erva-mate, que migrou para a Argentina. É notório que um país, ao importar uma nova cultura agrícola, seu primeiro e mais forte investimento é no melhoramento genético, para aumento da produtividade e adaptação da espécie às novas condições de solo e clima. Nas regiões de origem isto não ocorre e culturalmente se consolidam práticas arraigadas pelo extrativismo. 

No caso da erva-mate no Brasil, o mais tardio e pequeno investimento foi em melhoramento genético. Em uma cultura perene, é um sério entrave, uma vez que a substituição por material genético melhorado é bastante lenta, atinge pequena parte dos novos plantios e alguma substituição gradual dos ervais degradados. 

Há, no entanto, uma contradição. No Brasil, a pesquisa apresenta materiais genéticos com potencial superior a 1400@/hectare, porém, a produtividade média da atividade oscila de 500 a 650@/ha (IBGE). Isso nos leva a pensar: 

Como estará a cultura da erva-mate daqui a 30-40 anos? Eu arriscaria dizer que, em função do custo da terra e da mão de obra, da competição com outras atividades agropecuárias mecanizáveis e da migração rural, o setor terá que atender à expansão de demanda do produto, inclusive exportações, com uma provável redução de produtores envolvidos, de área ocupada e com terrenos acidentados. Talvez aí a genética faça a diferença. 

 PROGÊNIES BICLONAIS 

Nesta perspectiva, um trabalho de melhoramento genético por progênies biclonais, cujo desenho experimental ao final do ensaio de competição permita que o(s) cruzamento(s) selecionado(s) já se constituam em pomar de sementes, poderá, no menor tempo possível dar sustentação aos objetivos de melhoria genética. 

Esse modelo foi usado no município de Machadinho/RS para o desenvolvimento da cultivar de erva-mate Cambona 4, aproveitando as observações do produtor Teodoro Mendes da Fonseca, o “Seu Dorinho”. Entre quatro possibilidades, foi identificado por teste de DNA, o cruzamento que originou o pomar de sementes da progênie biclonal Cambona 4, com produtividade e qualidade de bebida suave fixadas no cruzamento. 

Como as características das duas plantas são conhecidas é possível avançar numa estratégia de melhoramento usando esses materiais em cruzamentos com outras plantas de destaque reconhecido no município ou em outros Polos Ervateiros do Rio Grande do Sul. Basta proporcionar o cruzamento controlado entre elas.  

Dentro de 4 a 6 anos obter-se-ão sementes para as mudas de um ensaio de competição entre esses cruzamentos, incluindo a Cambona 4 como testemunha. Assim, a progênie que emergir deste ensaio, tenderá ser igual ou melhor que a Cambona 4 em produtividade e qualidade de bebida.  Em 8 a 10 anos, após sua conversão em pomar de sementes, este ensaio deverá apontar novos materiais genéticos de qualidade disponíveis aos produtores de erva-mate.  

É uma longa caminhada, mas a maturação de qualquer projeto de melhoramento genético de uma cultura perene, tem que ser planejado, financiado e executado a médio e longo prazo. Temos que nos curvar à biologia das plantas... 

*A cultivar de erva-mate Cambona 4 está registrada no Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil sob o N° 33418.

Foto 1: Árvores matrizes do cruzamento original que originou a cultivar de erva-mate Cambona 4, primeira cultivar de erva-mate desenvolvida no Estado do Rio Grande do Sul e primeira cultivar de erva-mate biclonal desenvolvida no Brasil. Machadinho/RS. 

 

 

Foto 2: Frutificação da cultivar de erva-mate Cambona 4 em estágio inicial de maturação. Pomar Clonal de Sementes. Machadinho/RS.

 

Foto 3: Frutificação da cultivar de erva-mate Cambona 4 em fase de maturação final/colheita. Pomar Clonal de Sementes. Machadinho/RS.

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